sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

princípio de viramento de página, parte II (?)

seria muito ultrajante dizer que eu sei ?!
que eu sei que lembrar só faz doer mais ?
que eu sei que devanear só cura por ora ?
que eu sei que daqui em diante só saberemos mudar mais e mais, e simplesmente nos tornarmos completos estranhos quando voltarmos a nos encontrar ?


como é que eu consegui desejar outros corpos que não fosse o teu ?
como é que eu deixei outras faces perturbarem meu sono que não fosse a tua ?
como é que eu aceitei outras mãos consolarem minha dor que não fossem as tuas ?
como é que nos afastamos tanto mesmo ?



o sofrimento que causaste se desmancha quando lembro da falta de emoção robótica com que trataste meus sorrisos que foram teus.
a saudade que deixaste se cura com outros braços mais fortes e menos sóbrios.
a ilusão que outrora formaste vai e vem, numa loucura meio suicida, que serve só para amenizar o orgulho ferido e a pontuação grotesca de nossa póstuma história, afinal.

talvez o que eu sinto agora seja um medo imenso; um medo de ires embora daqui de dentro e deixar-me a deriva de qualquer carinho alheio. eu não quero esquecer do jeito mais fácil, eu não quero ficar pronta pra outra. eu quero que este amor literalmente apodreça da forma mais moribunda que houver, para que forme um escudo grosso de sujeira que me proteja de toda esta ilusão que vulgarmente chamam de felicidade.

assim. não vejo mais graça em agradar egos de outrem enquanto o meu se conserva numa ausência interminável.

portanto permanecerei por aqui mesmo. nesta área de conforto sofrida e vazia; que nada acontece, que solitariamente não está triste nem alegre, que somente finge se contentar com leituras inteligentes ou noitadas inconsequentes.

é melhor.
é mais fácil.
não dói e todos ficamos satisfeitos.




"[...] e vou voltar sozinha pro mundo onde tudo gira feito um carnaval de arlequim e vou ficar infeliz feito nada... mas vou entrar... ficar normal... te olhar nos olhos... ficar normal..."
eu sei que vou te amar - arnaldo jabor.

3 comentários:

Marcelo R. Rezende disse...

Eu super concordo com uma coisa: a gente prefere sofrer com um amor e tê-lo do que ficar a vagar sem ele, e quando ficamos sem, é porque já o odiamos, a linha tênue foi ultrapasada e o desejo de ter perto, vira repelente.

Adorei.
Beijo.

Fil. disse...

"não vejo mais graça em agradar egos de outrem enquanto o meu se conserva numa ausência interminável."

ya
Acho que tudo é medo. Medo de ficar a sós consigo mesmo.
Manter um amor, mesmo que putrefato, esconde nossos rostos de nós mesmos. Preenche (mesmo que de uma maneira totalmente superficial) e mais: nos ocupa. Nos ocupa de ver apenas o outro.

Mariana Cotrim disse...

ficar normal ;x
as vezes até fico com raiva de vir aqui e ver só coisas como essas.
parabéns, como sempre!