quarta-feira, 1 de julho de 2020

presente.

uma vez eu te quis sem querer, sereno, com a tua pele quente e teu silêncio -
e agora eu já não sei mais como é não te querer. 
eu te quero o tempo todo, sempre.
agora talvez não mais tão silencioso, mas suave, desperto, aconchegante.

uma vez eu te quis sem mistério ou passeio, cheia de curiosidade pra te ver inteiro
e agora eu já perdi o freio e te quero sem descanso, sem rodeio
sem roupa e sem floreio
pra te respirar enquanto você se desmancha no meu travesseiro.

uma vez eu te quis e você voltou. e aí ficou. largando os copos e os elogios pela metade,  tomando conta e mesmo assim garoando fininho, me ganhando com o teu cuidado e diligência. e eu não parei mais de te querer. sem fôlego ou com jeito, de meia ou imperfeito.
eu te quero todo dia.
eu te quero toda hora.
eu te quero agora e o dia inteiro.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

poesia.

meu amor, eu não sei mais escrever poesia.

me perdoa por não saber mais escrever poesia pra falar do quanto eu te amo.

mas é porque eu já amei mas sofri tanto
tanto -
que o amor acabou e doeu.

e aí eu tive que aprender a amar de novo.

e então eu vou pedir pra você ter paciência
por não saber mais escrever poesia -

quando eu sei que você é uma poesia inteira
escrita e viva.

e que na minha vida agora
você me faz ver que na verdade -
você é a poesia toda que faltava pra me fazer escrever poesia.
de verdade.
de você.

domingo, 27 de janeiro de 2019

esforço.

então até agora se passaram 27 dias desde o início do ano. nenhuma novidade: sobrevivo, entre as náuseas e as necessidades. de calma, de qualquer chuva tua que me alimente, de hospitalidade.

de qualquer forma ainda é difícil falar além do que é organizado para ser exposto.
de qualquer forma eu ainda espero alguma coisa do teu deserto que não seja só calor e seca.

toda vez as coisas se expandem e tomam proporções que sempre me fazem parecer estúpida no passado. mas tudo é um exercício, menos quando eu esqueço de pensar e lembro que eu sou humana. e então desses lapsos só me sobram as responsabilidades e os arrependimentos.

tudo é um esforço. mas se tem uma coisa que eu consegui na vida, foram minhas barreiras, então não estou cansada.

mas provavelmente quando eu atingir o cansaço, as pessoas só vão saber da tragédia - e esta é a confissão mais dolorosa que eu deixo hoje.
e vivo sempre.
sinto todo santo dia.
dolorosamente.

sábado, 24 de novembro de 2018

borda.

beirando o limite daquilo tudo reprimido, selvagem, cru e simples. lidando com a minha intensidade da borda enquanto eu concilio a vida os textos os atrasos as unhas quebradas e o amor.
e as jaulas.
os cacos presos pelos cantos, bravos mas envergonhados - tudo aquilo que não desaparece no respiro fundo. tudo aquilo que não era pra ter sido, não desse jeito, não barulhento assim.
estar no meio é quente mas me dissolve. 
na corda bamba da orla de tudo que é arisco e tão verdadeiro que dói, de qualquer forma conforta porque não tem fuga. não tem que ter fuga. porque negar a minha história e seus desdobramentos sobre o que eu sou é a maior violência que todo dia eu cometo comigo mesma.


shining like gunmetal, cold and unsure
baby, you're so ghetto, you're looking to score
when they all say hello, you try to ignore them
'cause you want more (why?)

sábado, 13 de outubro de 2018

praia II

com calma, eu vou morrer todo dia de vontade de você.

porque hoje a lua é crescente.
e minhas marés transbordam sutis pensando em você e nos teus dedos gelados.

porque talvez eu te conheça com facilidade
mas eu nunca resisto aos teus cabelos bagunçados e
sempre me surpreendo com a tua boca sobre mim, com agilidade.

você que me olha sempre com teus olhos tranquilos
não imagina o quanto de amor meu coração desaba em resposta -
despindo minha intensidade só quando eu gozo sobre a tua pele -
e que eu sempre termino desaguando na tua costa.



cum for me, comfort me
my misery could use a lil company
i think i'm losing it cause you're the only one for me
i been needing you to spell it whicha tongue for me
i been needing you to spell it whicha tongue for me
keep you sprung one, get you strung on me
give your lungs to me, don't you run from me, don't you run from me.


sábado, 22 de setembro de 2018

setembro.

quase sempre interpretando a mesma apatia azeda, talvez eu só tenha me entregado ao cansaço. minha "pureza" engolida pela rotina, e minha intensidade pungente escondida, quieta, no cantinho das emoções que eu entrego pras pessoas. 

e então a raiva o desconforto a discordância minha bagunça o carinho a dor e a tristeza as mágoas meus espinhos e os sorrisos tudo reprimido e enfiado no peito, desacostumados com tão pouco espaço dentro de mim porque eles são feitos pra sair mas eu só cansei de contar o que eles são pro mundo porque talvez ninguém ouviu. ninguém ouviu e agora eu não consigo mais falar. porque eu fui demais e as pessoas não gostaram.

vê: tanta pancada que eu só virei um mar reduzido num aquário, reservado à observar meus excessos e ocultando-os como punição. 

hoje é primavera e eu sequer floresci o que sabe deus agora eu tenho dentro de mim.


domingo, 16 de setembro de 2018

mar III

sobre os naufrágios e a chuva forte, tanta mágoa isolada e a única coisa que eu ouço é minha insegurança ventando.
sobre a água turva e as dúvidas.
sobre então a água ficando gelada e tudo aquilo que eu não falo. meu mercúrio afundado.
sobre as ondas ficando rápidas, e trazendo sinais de ressaca. mas o som delas quebrando na praia, ainda existem se ninguém ouve?
sobre então minha correnteza ficando cada vez mais selvagem e intratável. trancafiada na gaiola do meu peito e muda. violenta e cada vez mais impenetrável.