terça-feira, 2 de outubro de 2012

primavera.

os buracos, o pó e a fumaça
o pé, os olhos e a espada
o cinza, o frio e a escada -

o corpo me aliviando meios-fios e desgraças,
os olhos me tirando os meios-fins e ganhando minha risada.

todo cuidado, vapor, suor:
todo leitor que já viu o amor,
toda alma que já se esforçou pra desenhar uma flor e
a cor e
o calo e
o talo e
o verniz e
a raiz
tudo tentando ser delicado, dourado, adorável,
pra que me aceite, me compre, me deseje
e me acalme -

todo amor que me arranca a espada, o frio e a fumaça.
todo amor que alivia meu cinza.
todo amor que beija meus pés e continua subindo a escada.

todo amor querendo ser flor -

todo pra você, meu amor.

3 comentários:

Marcelo R. Rezende disse...

Que arraso de poema.

Desses que a gente lê e suspira; e depois escreve na parede do quarto.

Beijo, Vê (fazendo o íntimo, rs) <3

Unknown disse...

Esse poema realmente faz suspirar...

Mariana Cotrim disse...

me dá tanta inveja. seu verso não é forçado, é verdadeiro, intenso. nada diferente das prosas, é claro.