sábado, 5 de fevereiro de 2011

narcisismo sincero e escancarado.

quando chorava antes de dormir, ainda mais na quantidade de ontem, ela amanhecia com duas bolsas cheias debaixo dos olhos; juntando com as olheiras de talvez duas horas de sono, depois que chegou da rua, tirou os óculos escuros e se mirou no espelho, concluiu que aparentava fragilidade demais. e não gostava disso. ela não queria que os outros vissem que precisava de um abraço, urgente. sem uma constante presença masculina de um pai ou irmão mais velho, junto com uma mãe sensível e insegura, desde cedo ela aprendera que não ganharia nada se aparentasse fraqueza. ela era forte e fazia questão que todo mundo visse. sabia se cuidar sozinha. abrir pote de palmito. matar aranha. trocar lâmpada. meter medo em qualquer cara que se aproximasse mais, emocionalmente. é, talvez fosse sina assustar e assim ser sempre abandonada; ela era cheia de defeitos. o café em demasia deixava seus dentes levemente amarelos, suas mãos tremiam, era arrogante com gente desfavorecida intelectuamente, julgava desconhecidos pelos sapatos, era extremamente autoritária e inflexível, tinha mania de não somente expor, mas de impor sua opinião, explodia por qualquer coisa e vestia um sarcasmo infantil quando percebia que estava perdendo numa discussão. mas não era banal. de jeito nenhum. talvez fosse somente uma menina normal que lia nietzsche; e mesmo assim era tratada como burra. e mesmo assim a trocaram por uma vida mais badalada. e mesmo assim ainda achavam que podiam enganá-la com mentiras mal-contadas. sua vida amorosa não era um bom exemplo de organização e civilidade mesmo. na verdade, não servia de exemplo pra nada; era tudo um enrolado de mentira, extremos e sujeira. e ainda conseguiam estranhar quando viam a placa de 'keep out' na porta do coração dela; é que os sentimentos vinham sempre com o adjetivo 'demais'. só que depois de tudo, ela decidiu trocar a placa, antes tarde do que nunca.

agora o aviso era de 'error 404'.
a página não foi encontrada.
o coração estava perdido e assim ia ficar.




talvez só a terceira pessoa nos ofereça uma boa proteção.
não está na beleza lírica que eu queria, mas eu precisava por pra fora; seja lá o que é pra ser exposto.

me desculpem. seja lá o que é pra ser desculpado.

mesmo que não faça sentido, me sinto terrivelmente culpada. 
seja lá o que se precisa de um culpado.

7 comentários:

Mariana Cotrim disse...

'talvez só a terceira pessoa nos ofereça uma boa proteção.'
resumiu tudo aqui. sem mais.
geralmente as pessoas são fracas demais e se assustam com tamanha força. pensa nisso e esquece essa culpa, menina! :*

Iasmin Morais disse...

texto ótimo!
só acho que tem que abrir o seu coração, isso vai resolver tudo. :)
estou seguindo. beijo!

. disse...

Ah Verônica! A terceira pessoa nos protege por um minuto de pensar que o que está sendo descrito é o ''eu'' mas sim, o ela, uma pessoa qualquer que ao terminado e o texto e reelido, está ali, é tu, sou eu aqui descrita em cada minuciosa palavra.

Adoro o que escrevess, não digo mais 'decifra-me' pois aqui já o fazes bem...

Beijos minha querida.

Marcelo R. Rezende disse...

Quando o coração se perde dessa forma é necessário fazer aquela varredura bonita pelo corpo e depois instalar um belo anti-vírus.

Acho que a dor fecha, sabe? Assim como um corte nos faz enrugar a face, a martelada que o coração leva o faz enrugar e murchar, e quem sabe mudar de lugar.


Beijo.
Lindo como sempre.

Eric Schmidt disse...

posts assim como os seus, mexe com o meu 'eu' sabia? às vezes me sinto o protagonista dessas hitórias tristes, e me sinto aliviado por não me sentir o único.

Ilzy Sousa disse...

É claro que tem "eu" demais nessa palavras, sempre tem.

"talvez só a terceira pessoa nos ofereça uma boa proteção." E talvez só ela nos deixe livres para dizer aquilo que o Eu não permite, que o cérebro jamais deixaria publicar.

Meu, todo meu. Todo texto aqui tem um pedaço de mim. Deve ser porque a escritora deles mora dentro de mim.
E eu sou mesmo possessiva ♥

Luiza Fritzen disse...

intenso guria, e seu, totalmente seu o texto. a gente tá se defendo, por não ser compreendida, por ter personalidade forte, por ser abandonada. mas nem sempre se proteger e manter distância, é o melhor. um beijo, antes tarde do que nunca.