quinta-feira, 18 de novembro de 2010

ensaio.

o texto a seguir eu escrevi faz um bom tempo já. 
digamos que foi depois de eu o ter escrito e o ter mostrado pra algumas amigas que, no todo, me motivaram a criar um blog para postar todos os meus textos e tudo o mais. 
e se na época ele já me fazia sentido, hoje eu vejo que eu nunca escrevi tanta coisa certa, sem nem mesmo saber o  porque, exatamente.



o amor é uma coisa linda, de fato. toda essa história de alguém que seria capaz de morrer por outra determinada pessoa é no mínimo comovente. 
mas, só por um segundo, tente imaginar o que aconteceria se tentassem trancar esse lindo sentimento num lugar apertado e isolado, bem sufocante, onde ele não tivesse espaço para se mexer e nem fazer as devidas extravagâncias que são naturais do dito cujo.

melhor. pense numa fruta madura e bem suculenta que só de você olhar já dá vontade de comê-la. coloque-a num lugar fechado e escuro e dali umas três semanas  acho que ela não lhe tentará do jeito que fazia antes, certo ? ela perderá a cor, o gosto e o cheiro que são naturais de uma fruta madura, e vai ficar meio sinistra e mórbida. ela estará podre, afinal. mas todo mundo sabe que todas as frutas, por mais mofadas e feias que estiverem, tem sempre sementes dentro delas; e se você abri-las, recolher estas sementes e plantá-las, certamente lhe darão frutos até mais bonitos que outrora era a antecessora, se forem bem cuidadas. e assim vira um círculo vicioso: se apodrece a sua fruta, plante as sementes que ali encontrar e terá frutas melhores que a outra, e quando estas apodrecerem também, cultive as sementes destas. 

agora tente aplicar essa teoria no caso do amor ali do começo. é, eu sei que o exemplo foi bem rústico e digno de riso, é claro que não podemos comparar o amor com uma fruta; além do que, provavelmente você terá coisas melhores a fazer do que ficar pensando se mais uma metáfora romântica ridícula faz sentido ou não.
só que em algum momento você ficará triste por algum motivo amoroso; e entre os soluços e os pedaços de chocolate, tente pensar na história ali da fruta. 

o seu amor pode não ter sido bem tratado, com certeza estará machucado, desistindo de continuar sobrevivendo a tanto descaso e grosseria que assim recebeu; ele estará furioso por ter sido desprezado, e isto vai te levar a fazer algumas besteiras/escândalos, tudo por puro desespero, o que vai assustar mais ainda a pessoa desejada, sem dúvida. e quando o seu amor estiver morrendo, de uma maneira não tão agradável, não tão como você esperava, abra-o e guarde pra si as sementes que estarão ali. relaxe um pouco, esqueça do sofrimento, fique um dia inteiro assistindo os filmes que você gosta, de pijama, e se alimentando de pizzas e sorvetes. mas, depois, concentre-se exatamente naquilo que quer. se além daquele amor já falecido, você também estar extremamente cansado de tanto lutar por algo aparentemente perdido, jogue aquelas sementes guardadas fora; se a sua desesperança for maior do que qualquer coisa, elas não lhe servirão para mais nada, aprenda a viver sem mais amar. agora, se você ainda sentir que não acabou, mesmo que seja lá no fundo, plante aquelas sementes e cultive-as com todo o carinho que tiver; provavelmente não será fácil fazer com que elas cresçam saudáveis, haverá impedimentos, e você tem que se preparar para isto, é fundamental ter plena consciência de que enfrentará outra luta. 
só que no final, quando esta semente lhe dar um fruto e este começar a apodrecer, talvez você não precise se dar ao trabalho de abrir a fruta e pegar novamente as sementes. talvez poderá haver alguém do seu lado que te ajude a cultivar sempre a espécime que tens ali, e vai acontecer tão naturalmente que você nem irá perceber a fase da podridão e do crescimento. talvez dessa vez, pra você, o amor se manterá vivo e maduro eternamente. 
e vai chegar um dia que você agradecerá a si próprio por não ter desistido, lá no comecinho, e verá que aquela história absurda que você leu, sobre sementes, frutas e recomeços, você verá que aquela história já não é tão absurda assim, afinal.


e interprete como quiser.

3 comentários:

Anônimo disse...

O amor realmente é uma coisa linda,
assim como teu texto.

Descreveste de uma maneira poética! bjs querida.

Brunno Lopez disse...

Definições e definições. Isso move o mundo.

O amor pode ser essa fruta, pode ser a semente, pode ser o chão fértil, o orvalho matinal.

Não existe uma regra perfeita, com 300 milhões de seguidores ávidos e seguros de si emocionalmente.

Você escreveu bem sobre o tema, não fez devaneios previsíveis e apontou uma arma para as metáforas ocasionais e rotineiras.

Seguindo.

Mariana Cotrim disse...

sua teoria é perfeitamente plausível, minha cara.